ARTIGOS CIÊNTÍFICOS

Neurociência da estética

Título: Neuroscience of aesthetics (Neurociência da estética)

Sugestão de referência: Chatterjee, A., & Vartanian, O. (2016). Neuroscience of aesthetics. Annals of the New York Academy of Sciences, 1369(1), 172-194.

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RESENHA

As avaliações estéticas são apreciações que influenciam dominíos importantes da vida humana, incluindo a escolha do parceiro, o comportamento de consumo, a apreciação da arte e até o julgamento moral. O recente campo de estudo da neuroestética busca melhorar nosso entendimento do papel da avaliação estética examinando suas bases biológicas. Nesse artigo, os autores realizaram uma revisão seletiva da literatura com o objetivo de compilar dados importantes já publicados acerca desse assunto objetivando demonstrar que a experiência estética envolve um modelo tripartite que conta com vários sistemas neurais. Ademais os autores pretenderam diferenciar apreciações estéticas de avaliações dependente de contexto.

O efeito do julgamento estético é tão importante que, como já se sabe por estudos anteriores, se achamos uma pessoa fisicamente atraente somos capazes de inferir outras qualidades, morais, por exemplo, mesmo que elas não sejam obviamente relacionadas. Evidências até bastante antigas da psicologia demonstraram que pessoas avaliadas como belas são mais propensas a serem avaliadas também como competentes ou bondosas. Com relação ao contexto não é diferente, a beleza atribuída a um espaço físico é o fator mais importante que impulsiona o desejo de viver naquele espaço. O efeito estético também está por trás do que nos faz apreciar a arte, ir a um museu apenas para admirar a beleza de uma obra.

Semir Zeki foi o cientista responsável por cunhar o termo neuroestética em um trabalho pioneiro, todavia a exploração deste campo vem de muito antes quando um antigo psicólogo experimental, um dos chamados psicofisiologistas, Gustav Fechner, se interessou por estudar as propriedades físicas de um estímulo e a sensação que esse estímulo causa. A influência de Fechner se organiza em dois grandes tópicos, o primeiro, que se encaixaria na neuroestética experimental se ocuparia dos chamados processos “bottom up”, ou seja, os de baixo para cima, ou, grosso modo o efeito do externo no interno. Podemos então dizer que esse tópico estuda o efeito de um objeto em nossas sensações, percepções e julgamento e esse racional reflete a forma como muitos estudos científicos em neuroestética são projetado atualmente. Já o segundo tópico se trata de descobrir o conjunto de leis universais que governam as interações estéticas das pessoas com os objetos.

Com relação aos métodos utilizados para produzir dados em neuroestetica, a maioria deles é oriunda de estudos com neuroimagem, utilizando a técnica de ressonância magnética funcional (RMf). Embora essa técnica tenha sido revolucionária para o estudo do cérebro ela na maioria das vezes fornece dados correlacionais, associações, e sozinha não é capaz de apresentar relações de causa e efeito, esse inclusive é um aspecto a ser levado em consideração quando se está apreciando dados de RMf. Assim, é importante que haja triangulação de dados obtidos com diferentes metodologias, além da RMf, por exemplo, com eletrofisiologia também associada a dados comportamentais.

Como já mencionado no parágrafo inicial a experiência estética emerge da interação entre diversos sistemas neurais. Os autores pretenderam através dessa compilação de dados, no entanto, mapear quais estruturas reage a determinado estímulo, dessa forma o modelo tripartite que se propõe a explicar a experiência estética aponta algumas possibilidades. A primeira parte do modelo tripartite é chamada de Avaliação da Emoção, que, como o nome diz envolve o julgamento com componentes afetivos, estariam envolvidos nessa avaliação estruturas cerebrais como o Córtex Orbitofrontal (COF), o Núcleo Caudato e o Córtex Visual. A observação de faces, rostos bonitos e atraentes são, por exemplo, estímulos recompensadores, ou seja, prazerosos e que desencadeiam respostas afetivas. Por serem recompensadores ativam áreas cerebrais que participam do circuito cerebral da recompensa, a saber, núcleo accumbens e estriado dorsal.

Brown e colaboradores revisaram através de meta-análise, 93 estudos com técnicas de imagem cerebral (RMf e PET), eles objetivaram analisar a resposta cerebral frente a diferentes estímulos com valência estética emocional. Os estímulos utilizados foram fotos, obras de arte imagem de comida, imagens eróticas e fotos da pessoa amada (filhos ou cônjuges). A área que mais constantemente se ativou foi a ínsula anterior direita relacionada à percepção visceral e a experiência emocional. Os autores explicam que diante do julgamento de um estímulo o cérebro atribui mais relevância aquele que tem vantagem evolutiva, como a comida, por exemplo. Por fim então o aspecto da experiência estética que envolve avaliação emocional tem relação com áreas de recompensa do cérebro (núcleo acúmbens e estriado dorsal), além de áreas de reconhecimento facial, como o giro fusiforme e envolve também o desejo, responde a algo que queremos que desejamos.

O segundo aspecto do modelo tripartite é o do sistema sensório motor. A avaliação estética pode recrutar áreas cerebrais relacionadas à sensação e percepção, essa foi uma conclusão oriunda da análise de 15 estudos de RMf que envolveu a observação de pinturas. Essa tarefa parece ativar uma circuitaria que envolve diversas estruturas cerebrais, cada uma contribuindo de forma específica em toda a experiência de admirar as obras de arte. Obviamente áreas cerebrais visuais estão entre elas, como o córtex visual, e áreas de reconhecimento facial como o giro fusiforme e o giro parahipocampal, relacionado à percepção de espaços. Além de ativar áreas relacionadas às sensações e percepções, a observação de pinturas engaja também circuitos neurais relativos ao sistema motor. Esse engajamento envolve o sistema de neurônios espelho, que são neurônios que respondem, ou seja, se ativam pela mera observação de uma ação motora em outro indivíduo. Ou seja, observar uma determinada ação motora que aparece em uma pintura faz com que neurônios espelho em áreas motoras se ativem em nosso cérebro, mesmo que não imitemos a ação que estamos observando. Esse sutil engajamento representa um elemento “corporificado” da nossa resposta empática à arte.

O terceiro e último aspecto do modelo tripartite de compreensão cerebral da experiência estética foi chamado de “Conhecimento e significado”. É crescente a quantidade de evidências demonstrando processos top-down (de cima para baixo) que exercem fortes influências na experiência estética. Exemplo disso é o fato de obras de arte originais valer muito mais do que cópias, o que é consistente com a nossa antipatia intuitiva por falsificações. Essa observação sugere que nossa experiência com arte é influenciada por aspectos que vão além das qualidades perceptuais da obra, envolvem o contexto no qual essa experiência é processada.

Saber que uma obra está em um determinado museu, por exemplo, ativa áreas cerebrais como o lobo temporal e córtex entorrinal, isso sugere que as informações contextuais relativas á obra ativam memórias e podem modular níveis de prazer ao observá-las. O que é interessante assinalar no aspecto do conhecimento e significado é que tanto o contexto no qual a obra está inserida, como a acultura e a expertise pode atribuir valor estético além de ativar nossa sensação de prazer e guiar algumas de nossas ações e reações diante dessas obras.

Por fim, a neuroestetica está em um ponto de inflexão histórico, pronta para entrar no hall da fama da neurociência cognitiva. Existem críticas de escolas do pensamento mais humanistas e demais estudiosos que duvidam da capacidade das neurociências em lançar alguma luz sobre a complexidade da experiência estética. Todavia as explicações oriundas de uma abordagem biológica/neurológica a questão estética constitui um componente importante para tentar dar uma estrutura causal a experiência estética. Obviamente, essa abordagem isolada apresenta limitações, entretanto, abordagens multidisciplinares e multimodais que incorporem a neurociência podem ser particularmente frutíferas para o entendimento do complexo fenômeno estético.

Palavras-chave: arte, estética, beleza, contexto, preferência, neurociência.

Autora da resenha: JABOINSKI, Juliana. 2021.

  • Graduada em Psicologia.
  • Desenvolveu pesquisas em neurociência básica de 2007 a 2017.
  • Mestra em Psicologia com ênfase em neurociências pela UFRGS.

 

Observações importantes:

  1. Esse texto foi apreciado em maio de 2021, os aspectos priorizados fazem parte de uma curadoria científica, porém as escolhas dos pontos ressaltados são inerentemente subjetivas, de forma que para a devida apreciação e compreensão se sugere a leitura do material original na íntegra.
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