ARTIGOS CIÊNTÍFICOS

Um modelo de apreciação estética e julgamento estético

Título: A model of aesthetic appreciation and aesthetic judgments.

Sugestão de referência: Leder, H., Belke, B., Oeberst, A., & Augustin, D. (2004). A model of aesthetic appreciation and aesthetic judgments. British journal of psychology, 95(4), 489-508.

Disponível em: https://bpspsychub.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1348/0007126042369811

RESENHA

O objetivo desse artigo foi explicar porque as pessoas são atraídas pela arte, portanto foi proposto um modelo cognitivo de processamento da informação estética baseado em estágios, a saber: percepção, classificação explícita, domínio cognitivo e avaliação. O modelo discrimina emoção estética de julgamentos estéticos em dois tipos de vias diferentes, sendo parte desse processamento implícito, ou seja, automático e parte deliberado, ou seja, consciente, o que vai depender da demanda cognitiva do processo. A arte moderna foi o estilo de arte utilizada para a construção do modelo. Para a organização do modelo proposto os autores utilizaram publicações anteriores, ou seja, coletaram artigos científicos já publicados para organizar e apresentar sua proposta.

O artigo também discute como o processamento cognitivo da informação artística produz afeto, sentimentos positivos e recompensadores. Cabe lembrar que essa investigação surge historicamente de uma disciplina da psicologia experimental baseada em mecanismos de percepção visual – a partir dos trabalhos de psicólogos como Wilhelm Wundt e Gustav Fechner- os quais claramente focavam nas propriedades visuais das obras de arte que serviam como estímulo visual.

O primeiro estágio do modelo proposto pelos autores é o estágio da análise perceptual, num primeiro momento a arte – escultura ou pintura – é analisada de um ponto de vista da percepção, através da visão. Os contrastes das cores são os primeiros atributos a serem processados pelo cérebro e que tem impacto na preferência estética. Os autores desse artigo postulam que mesmo pequenas variações de contraste afetam a preferência estética. Os autores apontam também que o efeito da complexidade visual da obra sobre a preferência estética tem sido bastante investigado, nesse sentido um nível médio de complexidade parece ser o preferido em termos estéticos. O que pode ser explicado pelo potencial excitatório proveniente da estimulação visual que a obra causa, a excitação mais confortavelmente suportada seria então uma excitação média.

A cor também é percebida e processada nos primeiros estágios do modelo e seu efeito sobre a percepção estética tem sido bastante discutido. Além da cor outro aspecto importante é a simetria, que também é detectada nos primeiros estágios mesmo quando se trata de padrões abstratos complexos. A simetria parece ser preferida em uma obra de arte em detrimento da não simetria. Agrupamento e ordem também já são capturados nos níveis perceptuais. De acordo a teoria da visão de Marr (1982), essas variáveis ​​são extraídas rápida e automaticamente e são parte do esboço primal completo. Psicólogos da abordagem Gestalt apontam que existem alguns princípios que podem levar a boas Gestalt´s em obras de arte, sendo essas esteticamente preferidas.

Cabe lembrar que o processamento perceptual dessas variáveis ocorre de forma rápida, automática, sem esforço cognitivo consciente.

O segundo estágio se trata da Integração da Memória Implícita: O processamento estético depende em parte da memória implícita, é chamada implícita porque não é consciente. A preferência estética é afetada pela familiaridade que é processada em nível implícito. Usando o paradigma de mera exposição alguns estudos encontraram que a repetição da familiaridade aumenta a preferência afetiva por um estímulo. Por exemplo, a familiaridade com as pinturas de Van Gogh está positivamente correlacionada com os julgamentos estéticos acerca das obras desse artista. No entanto, quando as pinturas foram apresentadas como falsificações de Van Gogh, as correlações foram fortemente reduzidas.

Cabe também ressaltar a importância da prototipicidade que é a quantidade em que um objeto é representativo de uma classe de objetos. A preferência por prototipicidade foi encontrada para a variável atratividade facial, ou seja, o quanto um rosto é belo e foi mostrada para cores prototípicas. Além da prototipicidade e da familiaridade, Ramachandran e Hirstein também identificam o fenômeno da mudança de pico como uma característica da arte que é frequentemente usada de forma consciente ou inconsciente por artistas e que afeta as preferências estéticas. Os efeitos de mudança de pico descrevem respostas mais fortes a objetos que de alguma forma exageram as propriedades de objetos familiares. Já Zeki (1999) identifica a função da arte como busca por características essenciais. Dessa forma, algumas características atraem o observador porque exploram de forma adequada os processos de identificação do estímulo visual. Tanto as abordagens de Ramachandran & Hirstein (1999) quanto à de Zeki (1999) enfatizam a natureza recompensadora e prazerosa desses processos, mas isso nem sempre é aplicado à arte contemporânea por ser geralmente abstrata ou conceitual.

No estágio da classificação explícita o processamento da informação artística é afetado pela expertise e pelo conhecimento do observador. Classificações explícitas têm como características serem deliberadas e poderem ser verbalizadas. Nesse nível as análises dizem respeito ao conteúdo e ao estilo da obra. Quando a experiência e o conhecimento da arte são limitados, então a resposta será em termos do que é retratado, resultando em declarações como “uma paisagem” ou “um patch colorido de formas”. Os autores postulam, no entanto que quando há conhecimento e expertise a importância histórica da obra e o conhecimento acerca do autor da obra entram como parte da apreciação estética. Assim, este nível de processamento pode se sobrepor ao estágio de processamento anterior. Da mesma forma, com o aumento da experiência em arte, a representação inicial do contexto presumivelmente muda de “o que é retratado” para uma classificação mais sofisticada. A expertise na arte é o que dá suporte ao processamento cognitivo.

O estágio seguinte é o de Domínio Cognitivo e Avaliação: Os resultados da fase de domínio cognitivo são permanentemente avaliados em relação ao seu sucesso em revelar um entendimento satisfatório, domínio cognitivo bem-sucedido ou mudanças esperadas no nível de ambiguidade. A etapa de avaliação orienta o processamento estético medindo seu sucesso. Além disso, por meio do ciclo reverso, ele inicializa ainda mais o processamento de informações.

Quando a avaliação não é subjetivamente avaliada como bem sucedida o processamento da informação volta aos estágios anteriores. Interessantemente experts em arte processam os trabalhos artísticos utilizando estilo e características visuais da própria obra, enquanto observadores não treinados observam a obra em termos do conteúdo geral ou de referências externas. Uma maneira relativamente simples de obter entendimento é a formação de informações cognitivas auto-relacionadas. Essa estratégia é comumente utilizada por observadores não treinados, os quais associam o conteúdo da obra que estão observando com seus estados emocionais.

O próximo estágio do modelo se trata do Processamento Afetivo e Emocional: a experiência estética é afetiva e emocional, normalmente o observador assume que haverá uma emoção quando entra numa situação relacionada à arte, como uma exposição, por exemplo, e costuma avaliar isso como positivo. E o observador segue avaliando seu estado emocional conforme a avaliação estética da obra continua. O sucesso contínuo no domínio cognitivo resulta em mudanças positivas do “estado afetivo”, levando a um estado de prazer ou satisfação, em alguns casos o estado emocional eliciado pela arte atinge o que os psicólogos positivos chamam de “flow”, ou seja, um estado emocional positivo no qual há um foco contínuo na tarefa, atingindo um estado quase meditativo.

Tem havido um longo debate sobre se o processamento afetivo precede o processamento cognitivo (Kunst-Wilson & Zajonc, 1980; Lazarus, 1991; Zajonc, 1984). Mandler e Shebo (1983) usaram obras de arte reais, renascentistas, pinturas modernas representativas e abstratas e não encontraram evidências de uma precedência de julgamentos estéticos sobre julgamentos cognitivos (reconhecimento).

No que se refere à saída do modelo, ou seja, o “output”, os autores identificam dois tipos de saída, de resultado após todo o processamento anterior. Um deles é a apreciação estética emocional ou emoção estética e o outro se trata dos julgamentos estéticos. Sendo essas duas vias relativamente independente segundo os autores. A emoção estética depende do sucesso subjetivo do processamento da informação, que normalmente é descrito como prazeroso ou feliz, mas também pode ser negativo no caso do processo não ser satisfatório.Um trabalho de arte é avaliado como positivo se o processamento eliciado por ele é experienciado como emocionalmente positivo. Os autores Cupchik e Laszlo (1992), distinguem a recepção da informação artística em “baseada em prazer” e “baseada em cognição”, eles postulam que observadores não treinados, ou seja, leigos, baseiam sua avaliação mais em estados emocionais enquanto experts mais no processamento cognitivo.

Palavras-chave: beleza, formas, estética, cognição, emoção, design.

 

Autora da resenha: JABOINSKI, Juliana. 2021.

  • Graduada em Psicologia.
  • Desenvolveu pesquisas em neurociência básica de 2007 a 2017.
  • Mestra em Psicologia com ênfase em neurociências pela UFRGS.

 

Observações importantes:

  1. Esse texto foi apreciado em maio de 2021, os aspectos priorizados fazem parte de uma curadoria científica, porém as escolhas dos pontos ressaltados são inerentemente subjetivas, de forma que para a devida apreciação e compreensão se sugere a leitura do material original na íntegra.
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