Título: Lessons from neuroscience: form follows function, emotions follow form (Lições da neurociência: a forma segue a função, as emoções seguem a forma)
Sugestão de referência: Nanda, U., Pati, D., Ghamari, H., & Bajema, R. (2013). Lessons from neuroscience: form follows function, emotions follow form. Intelligent Buildings International, 5(sup1), 61-78.
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RESENHA
Nesse artigo de revisão da literatura os autores trazem dados acerca do impacto emocional de um estímulo visual e constroem relações entre a psicologia ambiental e a neurociência. Pretendeu-se, utilizando imagens da natureza, identificar propriedades visuais específicas que eliciam respostas emocionais de medo, dor e ansiedade, emoções essas que são bastante prevalentes em ambientes como os hospitalares. Nesse sentido o tema se faz pertinente uma vez que é de competência de arquitetos e designs pensar projetos no sentido de minimizar essas emoções relacionadas ao ambiente hospitalar. Dentro das possibilidades de propriedades visuais a ser analisadas se priorizou a categoria dos contornos.
Imagens e seu impacto emocional: defendendo as imagens da natureza
Pesquisas na área da psicologia ambiental que relacionam cenas/imagens com a observação/relato/mensuração do comportamento são abundantes, todavia os correlatos e mecanismos neurobiológicos ainda são em parte desconhecidos. As evidências apontam um importante papel das imagens da natureza em reduzir estresse, ansiedade e percepção da dor.
Nesse parágrafo são trazidas algumas evidências: um estudo coletou os batimentos cardíacos de pacientes em uma clínica odontológica e encontrou que as pessoas experienciaram níveis de estresse e ansiedade mais baixos nos dias em que havia uma paisagem natural apresentada numa tela na sala de espera (Heerwagen & Orians 1990). Pacientes no pós-operatório também demonstraram menos ansiedade e necessidade de analgésicos quando foram expostos a obras de arte relacionada com a natureza. Esse resultado positivo não foi encontrado em pacientes que não foram expostos a arte ou que foram expostos a obras abstratas ou de formas mais retilíneas, o que, na verdade parece ter piorado o parâmetros desses pacientes (Ulrich, Lunden e Eltinge 1993). Nanda et al. (2012) encontraram que pacientes que estão na sala de espera de pronto atendimentos ficam menos impacientes se houver um vídeo com conteúdo da natureza ou obras de arte com o mesmo conteúdo no recinto. Além disso, Schneider e colaboradores (2003) demonstraram que pacientes com câncer de mama reduziram os níveis de ansiedade durante a quimioterapia quando foram expostos a cenas do fundo do oceano. Dados fisiológicos coletados através de condutância da pele, tensão muscular e batimentos cardíacos demonstraram que sujeitos apresentam uma recuperação mais rápida se forem expostos a imagens da natureza do que se forem expostos a cenas urbanas (Ulrich et.al. 1991).
Na maioria dos estudos citados acima a resposta fisiológica foi rápida e sincronizada em tempo real com as imagens da natureza, além de ser mensurável. Demonstrando assim o argumento que esse particular tipo de imagens – da natureza com características específicas de profundidade de campo, vegetação verdejante, pontos focais claros – é dotada de “poderes” restauradores. Todavia, arquitetos e designers estão ainda tentando identificar que elementos específicos que criam esse efeito restaurador, para que possam criá-lo intencionalmente quando for oportuno. Uma das teorias que explicaria esse impacto de imagens da natureza seria a teoria da evolução, que diz que nós, como espécie humana, somos programados para preferir e responder positivamente às imagens da natureza a rapidez com que as respostas fisiológicas aparecem sugere, inclusive, que a resposta a essas imagens é algo bastante básico, primitivo e inato para nós. O pesquisador Zajonc (1980) argumenta que como resposta básica a necessidade de sobrevivência os seres humanos utilizam respostas rápidas, pré-conscientes, digamos assim, essas respostas são baseadas em pistas ambientais básicas com base em alguns elementos grosseiros da imagem que são insuficientes para julgamentos cognitivos, mas são adequados para uma abordagem inicial ou decisão de evitação.
Mas a pergunta é: a forma, o contorno, sozinho é capaz de gerar gatilho para essa rápida resposta? Neste artigo, a intenção dos autores foi pegar os insights da neurociência e destilá-los em ideias para design além do escopo da cena visual. O foco neste artigo é a resposta “rápida”, a resposta inicial, indiscutivelmente pré-cognitiva, que poderia moldar a capacidade emocional de um ambiente.
Com relação aos contornos, Bar e Neta (2007) conduziram um estudo de preferência de objetos de uso diário com formatos curvilíneos ou com extremidades afiadas. Os sujeitos dessa pesquisa preferiram os objetos de formato curvilíneo em detrimento dos com ângulos mais extremos. Esse viés de preferência parece ser oriundo de uma percepção implícita, automática de que ângulos retos, afiados são vistos como pistas ameaçadoras, pois lembram elementos pontiagudos. Esse estudo teve sua segunda fase e demonstrou que a amigdala (estrutura cerebral que responde ao medo) se ativa de forma significativa frente a objetos de uso diário que tem essa característica pontiaguda, por exemplo, um sofá com quinas. O que não acontece quando os contornos são curvilíneos, pois nosso cérebro reage rapidamente tentando nos afastar de possíveis perigos, uma vez que essa forma mais pontiaguda representa esse perigo parece razoável a resposta.
Discussão sobre formas curvas / angulares na arquitetura
Muitos estudos tem demonstrado a preferência por contornos curvos, arredondados, essa preferência foi verificada tanto em amostra de crianças quanto de adultos e também foi verificada quando foi avaliada intenção de compra. No contexto do design o contorno tem sido estudado em uma grande variedade de abordagens, e particularmente no design de produto. Em sua tese de doutorado Madani Nejad (2003) encontraram que descobriram que as formas curvilíneas em configurações arquitetônicas residenciais internas foram percebidas como menos estressantes em comparação com as formas mais angulares e retilíneas. Além disso, as formas curvilíneas foram percebidas como mais privativas e seguras. O autor hipotetiza que adicionar curvas ao projeto pode criar espaços que são percebidos como mais agradáveis relaxantes e calmos e que dão sensação de alegria e serenidade. Os autores concluem, entretanto que, neste momento, todas as neuro-evidências que reuniram foram de imagens de cenas naturais, rostos, formas abstratas e objetos básicos. Sendo agora o momento certo para testar se os insights que a literatura oferece são verdadeiros com imagens de espaços tridimensionais (interior e exterior).
Autora da resenha: JABOINSKI, Juliana. 2021.
- Graduada em Psicologia.
- Desenvolveu pesquisas em neurociência básica de 2007 a 2017.
- Mestra em Psicologia com ênfase em neurociências pela UFRGS.
Observações importantes:
- Esse texto foi apreciado em maio de 2021, os aspectos priorizados fazem parte de uma curadoria científica, porém as escolhas dos pontos ressaltados são inerentemente subjetivas, de forma que para a devida apreciação e compreensão se sugere a leitura do material original na íntegra.
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