ARTIGOS CIÊNTÍFICOS

Como as formas influenciam o julgamento social

Título: How shapes influence social judments (Como as formas influenciam o julgamento social)

Sugestão de referência: Hess, U., Gryc, O., & Hareli, S. (2013). How shapes influence social judgments. Social Cognition, 31(1), 72-80.

Disponível em: https://guilfordjournals.com/doi/abs/10.1521/soco.2013.31.1.72

RESENHA

Pesquisas na área das propriedades fisionômicas de um estímulo perceptual apontam uma tendência humana a avaliar linhas angulares como mais negativas e ameaçadoras quando comparadas a formatos curvilíneos. Essa informação é fundamentada empiricamente por muitos estudos (Aronoff, Barclay, & Stevenson, 1988; Aronoff, Woike, & Hyman, 1992; Bar & Neta, 2006; Uher, 1991). Essa preferência por objetos curvilíneos pode ser percebida já a partir dos três anos de idade, como postulam os pesquisadores Jadva, Hines e Golombok (2010). Além disso, as pessoas tendem a associar formas arredondadas com sensação de paz e os formatos angulares com agressão (Lindauer, 1990), metaforicamente a raiva é frequentemente associada em picos, e representações pontiagudas (Stefanowitsch, 2006). Uher (1991) relaciona arestas vivas ao antagonismo, observando que a combinação de olhos e um motivo em ziguezague, que lembra os dentes, transmitem a ameaça de mordida em muitos culturas. Ademais, ângulos afiados são associados a uma variedade de objetos perigosos como unhas/garras, facas, espinhos o que pode eliciar respostas de medo. Nesse sentido, os pesquisadores Bar e Neta (2007) também demonstraram que ser exposto a estímulos, imagens com contornos pontiagudos pode ativar a amigdala cerebral, que responde a estímulos ameaçadores, dessa forma corroborando a valência aversiva desse tipo de forma, que também pode representar ameaça social.

A perspectiva evolucionária explica essa tendência humana a prestar atenção automaticamente, o que se chama em psicologia cognitiva de saliência de estímulo, a formas perfurantes, como chifres e dentes.

Teorias atuais envolvendo o conceito de Cognição Incorporada (Embodied Cognition) propõem que a simulação de aspectos sensoriais, motores e introspectivos formam a base das representações conceituais. Nesse sentido alguns autores postulam que as primeiras experiências sensóri-motoras, vividas na tenra infância, servem como base para o desenvolvimento posterior de conceitos mais abstratos, num processo chamado de “andaime”, uma forma de sustentação. Ainda na perspectiva da cognição incorporada Niedenthal et al. (2005) sugere que o conhecimento conceitual é formado pela história sensó-motor da criança, além dos estados introspectivos que vão ocorrendo concomitantemente com as experiências vividas em interação com o ambiente. Um exemplo interessante dessa noção de ativação sensorial/representação corporal a partir de conceitos abstratos é o fato de que as pessoas, quando convidadas a pensar sobre exclusão social, se sentem literalmente mais frias (Zhong & Leonardelli, 2008). Similarmente indivíduos quando pensam em desapontamento costumam curvar sua postura diminuindo sua altura (Oosterwijk, Rotteveel, Fischer, & Hess, 2009). Essas teorias apontam então que as experiências sensoriais e motoras que acontecem logo nos primeiros anos de vida é que formarão a base conceitual para que a pessoa seja capaz de representar conceitos abstratos do ambiente.

Dito isso a presente pesquisa pretendeu testar a possibilidade de que a mera presença de estímulos pontiagudos ou arredondados possa influenciar o julgamento social das pessoas. Especificamente se investiga a hipótese de que a presença dessas formas (arredondadas ou pontiagudas) moldam o julgamento de algumas pessoas com relação a outras como sendo mais ou menos agressiva.

Para tanto foram conduzidos dois estudos, o objetivo do Estudo 1 foi avaliar se o manuseio de formas redondas e afiadas tem impacto na percepção social. Especificamente, os participantes foram convidados a primeiro montar um quebra-cabeça mostrando um rosto humano. Previmos que quando o quebra-cabeça fosse composto de formas afiadas, o alvo seria avaliado como mais agressivo, mas como mais caloroso quando o quebra-cabeça foi composto de formas redondas.

Como de fato previsto pelos autores, quando a foto do quebra cabeças foi composta por formas arredondadas os participantes da pesquisa (cinquenta e oito mulheres e cinquenta e quatro homens) ranquearam o indivíduo na foto como menos agressivo quando comparado ao quebra cabeças aonde as partes tinham formato pontiagudo. Os resultados do estudo 1 corroboram a noção de que ser exposto a formas pontiagudas versus arredondada ativa mais os conceitos abstratos de agressão e esses conceitos influenciam o julgamento social das pessoas.

Já o estudo dois (vinte e seis homens e vinte uma mulheres) testou quando apenas a presença das formas (sem manuseio) impacta decisões sociais. Nesse estudo foi solicitado aos participantes que eles participassem de um jogo de confiança econômica que foi projetado para avaliar a tendências das pessoas em engajar em comportamentos cooperativos, individualistas ou competitivos. Sob pretexto que os quartos (ver figura ao final do texto) eram parte de um evento de arte as figuras arredondadas ou pontiagudas foram postas nas paredes dos quartos. Os pesquisadores hipotetizam que os participantes escolheriam a opção agressiva de jogo quando colocados num quarto com as formas pontiagudas e engajariam na opção cooperativa quando a forma for arredondada.

Como foi previsto pelos autores, quando o quarto estava decorado com as formas pontiagudas o índice de agressividade foi maior, indicando que nessa condição os participantes escolheram a forma agressiva de participação no jogo. Isso não ocorreu na mesma frequência quando o quarto estava decorado com as formas arredondadas.

Por fim os autores concluem que juntos, esses dois estudos apontam fortes evidências de que as formas dos objetos que estão a nossa volta influenciam nossos julgamentos sociais.

 

Autora da resenha: JABOINSKI, Juliana. 2021.

  • Graduada em Psicologia.
  • Desenvolveu pesquisas em neurociência básica de 2007 a 2017.
  • Mestra em Psicologia com ênfase em neurociências pela UFRGS.

 

Observações importantes:

  1. Esse texto foi apreciado em maio de 2021, os aspectos priorizados fazem parte de uma curadoria científica, porém as escolhas dos pontos ressaltados são inerentemente subjetivas, de forma que para a devida apreciação e compreensão se sugere a leitura do material original na íntegra.
  2. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998 pertencem exclusivamente à NEUROARQ® Academy. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste texto, através de quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela internet e outros), sem prévia autorização por escrito.

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