Título: Brain, Machines and Buildings: towards a neuromorphic architecture (Cérebro, Máquinas e Edifícios: em direção a uma arquitetura neuromórfica)
Sugestão de referência: ARBIB, M. A. (2012). Brains, machines and buildings: towards a neuromorphic architecture. Intelligent Buildings International, 4(3), 147–168.
Disponível em: https://doi.org/10.1080/17508975.2012.702863
RESENHA
Este texto se trata de uma apresentação/explicação do conceito de arquitetura neuromórfica, relatado em primeira pessoa pelo pesquisador Michael Arbib, da Universidade do Sul da Califórnia. Publicado em 2012, esse documento, como menciona Michael, pretende explanar acerca de como os achados recentes das neurociências podem impactar o design do espaço construído. Para tanto, a Academia de Neurociência para Arquitetura (ANFA, www.anfarch.org) tem também se debruçado sobre essa temática com o objetivo de entender como o design dos espaços afeta o processamento cerebral e como o cérebro responde a esses espaços, dessa forma então, sendo possível pensar no futuro da arquitetura, levando em conta o conhecimento produzido em neurociências.
A arquitetura neuromórfica, segundo Michael, é uma abordagem complementar que incorpora as funções cerebrais aos espaços construídos, dando a esse espaço uma característica de interatividade, analogamente à forma como o cérebro funciona. Sendo seu objetivo principal avaliar como tal infraestrutura interativa pode ser, inclusive otimizada, por essas descobertas da neurociência.
O autor resgata algumas publicações importantes que contribuíram na consolidação do campo de conhecimento, como o livro de John Paul Eberhard´s (2008) intitulado Brain Landscape ou Paisagem do cérebro, em tradução livre. Nessa publicação, Eberhards relata que o uso da neurociência para a arquitetura está no fato do conhecimento acerca do cérebro fornecer uma base para a tomada de decisão relacionada com os projetos a serem executados, focando em fatores relacionados ao funcionamento humano. Alguns exemplos: como podemos contribuir para a redução do estresse? Como podemos melhorar a cognição em espaços educacionais ou onde vivem pessoas com a demência de Alzheimer, como podemos otimizar a produtividade das pessoas em espaços diferentes como um laboratório ou uma fábrica? Se vamos projetar uma igreja, como podemos fazê-lo de forma a oferecer um maior senso de pertencimento e inspiração? Essas são dúvidas que a articulação entre as neurociências e a arquitetura também se propõe a responder.
Nesse sentido, uma série de métodos neurocientíficos tem sido utilizados para fomentar essa articulação, a saber: uso de realidade virtual, que permite interação e a observação da reação de uma pessoa frente a um determinado ambiente fictício, a eletroencefalografia, que faz uma leitura da reação das ondas cerebrais de uma pessoa diante de uma determinada situação, bem como a ressonância magnética funcional que permite entender quais áreas cerebrais são recrutadas quando em contato com uma experiência singular, por exemplo.
Outro ponto importante acerca da arquitetura neuromórfica é sua relação com a modelagem computacional através das redes neurais. O resultado desse tipo de tecnologia, dentre outros, permitirá, segundo Arbib, (2012), que haja uma “smart arquitecture” assim como existe hoje um smart phone. Será possível interagir com um cômodo da casa, de forma que ele seja percebido como tendo uma “personalidade”. Há crescente interesse na ideia de desenvolver robôs, não como aqueles humanoides que costumamos ver em filmes de ficção científica, mas sim na forma de um “mobiliário ativo”.
Por exemplo, uma cama que pode auxiliar uma pessoa com dificuldades de mobilidade a levantar ou a deitar, ou mesmo auxiliá-la com a sua medicação. Além disso, de forma a exemplificar e ilustrar alguns dos conceitos é trazido o exemplo do espaço interativo Ada, construído em 2002 para uma exposição temporária em Lausanne, na Suíça. O projeto Ada foi idealizado e executado por um time liderado por Paul Verschure e Rodney Douglas, ambos os profissionais especialistas em modelagem cerebral, o Ada pode ser considerado um exemplo de arquitetura neuromorfica, muito embora tenha sido um espaço mais de entretenimento do que uma construção para fins comerciais.
Ademais, será viável, através do conhecimento da neurociência, desenvolver aplicativos para edificações que irão permitir que um determinado espaço “se comporte” de forma a melhorar o ambiente e este se adaptar às necessidades humanas. Com essa crescente inteligência sendo agregada nos projetos, cada espaço, cada cômodo terá seu sistema de memoria e uma base de dados para poder viabilizar uma integração entre os cômodos, assim, o trabalho do arquiteto não necessariamente finda quando o projeto é entregue. Na verdade, o profissional serve como um consultor por tempo indeterminado, que auxilia a descobrir formas de explorar essa inteligência agregada aos ambientes.
Por fim, é importante ressaltar que se trata de um texto robusto e complexo acerca de vários conceitos que estão implicados na chamada arquitetura neuromórfica. O autor oferece um apanhado dos mesmos, como uma introdução a conceitos da neurociência, bem como relata sobre a complexa estrutura neural multinível. Além disso, agrega informações de teoria e prática por meio de dois estudos de caso, tendo um deles foco na cognição social, ou seja, na nossa inteligência social, utilizando como pano de fundo a teoria dos “neurônios espelho”. O segundo estudo de caso ressalta a questão dos mapas cognitivos e do hipocampo, importante estrutura cerebral relacionada à aprendizagem, memória, dentre outros processos. São feitas distinções no trabalho também entre as neurociências e a inteligência artificial, com a finalidade de que essa discriminação auxilie o leitor a entender o que cada uma representa e pode auxiliar na sua prática profissional.
Uma das conclusões de grande relevância que cabe ressaltar é a de que os achados da neurociência podem impactar o futuro da arquitetura e do design de duas formas: através da “neurociência da experiência arquitetônica” na qual o foco dos estudos está no impacto do espaço construído no cérebro humano. A segunda forma se trata da arquitetura neuromórfica propriamente dita, sendo esta uma abordagem complementar que incorpora as funções cerebrais nos espaços construídos.
Palavras-Chave: cérebro, espaço inteligente, computação cooperativa, emoção, infraestrutura interativa, redes neurais, arquitetura neuromórfica, edifício inteligente, neurociência, interação social.
Autora da resenha: JABOINSKI, Juliana. 2021.
- Graduada em Psicologia.
- Desenvolveu pesquisas em neurociência básica de 2007 a 2017.
- Mestra em Psicologia com ênfase em neurociências pela UFRGS.
Observações importantes:
- Esse texto foi apreciado em maio de 2021, os aspectos priorizados fazem parte de uma curadoria científica, porém as escolhas dos pontos ressaltados são inerentemente subjetivas, de forma que para a devida apreciação e compreensão se sugere a leitura do material original na íntegra.
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