Título: A música por uma óptica neurocientífica
Sugestão de referência: Rocha, V. C. D., & Boggio, P. S. (2013). A música por uma óptica neurocientífica. Per musi, (27), 132-140.
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-75992013000100012&script=sci_abstract&tlng=pt
RESENHA
O artigo trás uma revisão de estudos que foram publicados em revistas científicas internacionais de 2003 a 2013 acerca do tema da música visto pelo prisma da neurociência. Ressalta como a música pode contribuir nas áreas de reabilitação, pedagogia, musicoterapia, além de explicar como o cérebro processa essa informação e o seu impacto no nosso bem-estar.
A música é um traço exclusivo do ser humano, mesmo com o canto dos pássaros e a comunicação das baleias nenhum outro animal tem um sistema musical organizado como nós. Além disso, todos nós vivenciamos a música de alguma forma em nossas vidas e ela é um elemento onipresente existente em todas as culturas. Tendo isso em vista é provável que a música tenha um valor evolutivo para nós, ou seja, que ela tenha um significado e uma função na nossa evolução enquanto espécie.
Nas últimas décadas o estudo de como o cérebro funciona através das neurociências tem permitido descobrir a relação entre a música e o sistema nervoso central, sobretudo através de técnicas como a ressonância magnética, a eletroencefalografia e o potencial relacionado a eventos. Todas essas técnicas permitem entender melhor como a música é processada no cérebro e quais áreas e circuitos ela ativa, dessa forma podendo, inclusive, pensar no potencial terapêutico da música.
Os estudos com ressonância magnética identificaram, por exemplo, que músicos apresentam volume de várias áreas corticais maiores que não músicos, assim como o volume maior do cerebelo e até de estruturas límbicas (circuitaria relacionada ao processamento das emoções). Também foi identificado que a música possui exemplos neuroplásticos, ou seja, o cérebro de uma pessoa que estuda música pode se modificar a fim de “acolher” esse aprendizado.
No que tange ao processamento e a percepção do som áreas corticais, cerebelo e sistema límbico são ativados. Interessantemente tanto tocando um instrumento musical quanto ouvindo música o córtex motor é recrutado, ou seja, essa interação auditivo/motora não é restrita a pessoas com prática musical. Na verdade a prática aumenta a intensidade do fenômeno, mas não é determinante na sua existência.
É importante ressaltar também a relação da música com a emoção, a capacidade da música de gerar alteração emocional é uma característica reconhecida por todos, diga-se de passagem. Do ponto de vista evolutivo a música parece ter tido grande relevância antes mesmo de a linguagem se desenvolver totalmente em humanos, a música, segundo essa teoria, favoreceu a comunicação emocional entre as pessoas antes da linguagem. Além disso, a música teria melhorado as relações sociais e o convívio em grupo dos nossos ancestrais.
Os pesquisadores, todavia, divergem com relação ao aspecto emocional e a musica. Alguns autores defendem que a demanda emocional gerada pela música seria somente atribuída ao julgamento estético e, portanto, recrutaria somente áreas corticais. Outros autores já dizem que a música é capaz de evocar emoções simples, como a alegria e a tristeza, por exemplo, e, para isso, áreas límbicas estariam envolvidas, como, por exemplo, o sistema de recompensa cerebral, responsável pela sensação de prazer que temos diante de realizar alguma atividade que gostamos.
Com relação à memória e a música, ainda não é totalmente sabido se a memória para a música tem as mesmas características que a memória para outros tipos de evento. Ademais, tampouco está claro como e porque a música facilita a aquisição da memória. É interessante observar que existem pacientes com tipos de demência que não se lembram de fatos importantes da vida, mas se recordam de canções da sua infância, o que também sinaliza que a memória para a música tem um componente diferenciado.
Palavras-chave: som, neurociência e música, cérebro.
Autora da resenha: JABOINSKI, Juliana. 2021.
- Graduada em Psicologia.
- Desenvolveu pesquisas em neurociência básica de 2007 a 2017.
- Mestra em Psicologia com ênfase em neurociências pela UFRGS.
Observações importantes:
- Esse texto foi apreciado em maio de 2021, os aspectos priorizados fazem parte de uma curadoria científica, porém as escolhas dos pontos ressaltados são inerentemente subjetivas, de forma que para a devida apreciação e compreensão se sugere a leitura do material original na íntegra.
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