Título: 14 Partters of Biophilic Design Improving Health & Well – Being in The Built Environment (14 padrões de design biofílico para melhora da saúde e bem-estar no ambiente construído)
Sugestão de referência: Browning, W.D., Ryan, C.O., Clancy, J.O. (2014). 14 Patterns of Biophilic Design. New York: Terrapin Bright Green llc.
Disponível em: https://www.terrapinbrightgreen.com/reports/14-patterns/
RESENHA
A biofilia é a conexão biológica inata do homem com a natureza, o que explica, por exemplo, porque o som do fogo crepitando e das ondas quebrando na praia nos trás tamanha satisfação. Por décadas, cientistas e profissionais da arquitetura e design têm trabalhado para definir quais aspectos da natureza – se implementados adequadamente nos ambientes construídos – irão resultar em satisfação e bem estar para as pessoas que ali estiverem. O desafio, todavia, se trata de passar da pesquisa à aplicação de maneira que efetivamente impacte na saúde e no bem-estar dos frequentadores desses espaços, e de como a eficácia das estratégias utilizadas pode ser eficientemente avaliada (Browning, 2014).
O parágrafo acima condensa, em alguma medida, a ideia principal do artigo “14 padrões de design biofílico para melhora da saúde e bem estar no ambiente construído”, que na verdade se constitui um guia para entendimento e aplicação da biofilia. O guia foi apoiado e idealizado pela Terrapin Bright Green, empresa de consultoria ambiental e planejamento estratégico que tem como base o comprometimento com a melhoria do ambiente humano, a empresa tem sede em Washington e Nova York. Nesse material três autores principais e diversos coautores – sendo todos pesquisadores do tema – organizam padrões de aplicação da biofilia que objetivam sistematizar a forma de implementar essas estratégias nos mais variados espaços. Trata-se então de um material que reúne e organiza o conhecimento técnico/científico acerca da biofilia, construído, sobretudo, nas duas últimas décadas, levando em conta as mais variadas particularidades culturais, sociais e ambientais. O artigo apresenta uma introdução geral, contextualiza a biofilia desde seus aspectos históricos, apresenta as considerações sobre o design envolvendo esse recurso e, por fim, demonstra e explica os 14 padrões em recursos biofílicos para o design.
O conteúdo completo sobre o tema da biofilia aplicada ao design e a arquitetura está organizado em 64 páginas nas quais se observa informações extraídas de estudos científicos importantes para o entendimento do impacto de estratégias de design biofílico sobre diversas variáveis. Impacto esse sobre nosso desempenho cognitivo, ou seja, capacidade mental, humor, estresse e outros aspectos psicológicos, bem como variáveis fisiológicas, como respostas hormonais, por exemplo. Os dados de estudos sobre o impacto da utilização da biofilia nos espaços construídos sobre nosso organismo, em especial o cérebro estão pormenorizados no material. Além disso, foram organizados em forma de tabela (localizada na página14) informações que cruzam os principais resultados de cada estudo com o recurso biofílico adotado, fornecendo assim ao leitor um panorama geral das evidências da utilização de cada estratégia, resumindo: o que se sabe até então que funciona em termos de padrões de design biofílico e respostas biológicas, ou seja, como, de fato reagimos a esses recursos e o que é possível esperar em termos de melhora do desempenho cognitiva, alívio do estresse, melhora do humor e da sensação de bem-estar.
Além da exposição de evidências positivas relacionadas à utilização dos recursos biofílicos o guia classifica os tipos de biofilia em três principais, a saber: natureza no espaço, análogo natural e natureza do espaço. Cada uma dessas três categorias são então derivadas em outras subcategoriais, resultando assim nas 14 finais, um quadro sumarizando todas pode ser encontrado na página 25 do material original. Para fins de exemplificar citemos algumas categorias: conexão visual com a natureza, conexão não visual com a natureza, padrões biomórficos, conexão material com a natureza, presença de água, dentre outros. Um por um os 14 padrões em biofilia são explicados e exemplificados no material com texto e belas fotos de espaços que ilustram a categoria em questão.
O guia também se preocupa em salientar aspectos como viabilidade e planejamento frente ao desejo de implementação de recursos biofílicos nos espaços, de forma que pontua algumas necessidades importantes a serem consideradas, por exemplo: identificação a priori dos resultados desejáveis, diversidade de estratégias de design, qualidade versus quantidade das estratégias, dentre outras. Além disso, os autores fazem ressalvas importantes quanto às particularidades dos locais nos quais os recursos serão aplicados, particularidades como o clima, o bioma e o tipo de ambiente, se rural, suburbano ou urbano, resultando numa proposta de um plano interdisciplinar de design que levaria em conta as idiossincrasias de cada local.
Por fim, porém não menos importante, os cientistas responsáveis pela produção do artigo dedicam uma seção a discussão dos aspectos de monitoramento e mensuração da eficácia das estratégias utilizadas, ou seja, qual o “estado da arte” das pesquisas na área, as dificuldades e os desafios nesse aspecto. Com relação a isso destacam, por exemplo, o alto custo de pesquisas que envolvam metodologias de imageamento cerebral com tecnologias como a ressonância magnética funcional (RMF) e outras medidas de funcionamento cerebral como a eletroencefalografia (EEG). Além das questões de orçamento ressaltam a dificuldade de comparação e de generalização de dados frente às diferenças individuais e culturais da amostra.
Em contrapartida, os autores assinalam que existem possibilidades de metodologias menos onerosas e que podem fornecer resultados interessantes. Tendo em vista que a ciência da biofilia é um campo em franco desenvolvimento e têm despertado interesse de pesquisadores da psicologia, neurociência e endocrinologia, novos padrões podem emergir conforme novos estudos forem sendo executados.
Palavras-chave: biofilia, bem-estar, ambiente construído.
Autora da resenha: JABOINSKI, Juliana. 2021.
- Graduada em Psicologia.
- Desenvolveu pesquisas em neurociência básica de 2007 a 2017.
- Mestra em Psicologia com ênfase em neurociências pela UFRGS.
Observações importantes:
- Esse texto foi apreciado em maio de 2021, os aspectos priorizados fazem parte de uma curadoria científica, porém as escolhas dos pontos ressaltados são inerentemente subjetivas, de forma que para a devida apreciação e compreensão se sugere a leitura do material original na íntegra.
- Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998 pertencem exclusivamente à NEUROARQ® Academy. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste texto, através de quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela internet e outros), sem prévia autorização por escrito.